domingo, 26 de dezembro de 2010

Orestes Quércia, o repouso eterno

Em 1974, o povo cansado acorda do logro que foi a ditadura militar e com o auxílio da propaganda eleitoral na TV elege em massa os candidatos a senadores do MDB (a eleição para governador era indireta) e no olho de um redemoinho gorgolejante surge um inesperado senador pelo estado mais rico da federação. E não parou mais e surge o  "quercismo": foi vice-governador de São Paulo e depois governador (1988) e com bons índices de aprovação  conseguiu eleger o seu sucessor, Luiz Antônio Fleury Filho, que até pouco tempo antes era o semi-desconhecido secretário de Segurança Pública do governo Quércia.
Velório de Orestes Quércia
Apesar da carreira meteórica, Quércia se envolveu em inúmeras denúncias de corrupção como a mais célebre foi a de má gestão do BANESPA e compromete a sua imagem de forma aparentemente irremediável. Torna-se empresário  nos ramos imobiliário e das comunicações – foi proprietário do Grupo Sol Panamby, que detém controle da rádio Nova Brasil FM, do jornal financeiro DCI, de emissoras afiliadas ao SBT como a TVB Campinas e a TVB Santos, do Shopping Jaraguá e de várias fazendas.
 Finaliza a sua carreira política com lugar garantido no lugar no panteão paulista dedicados aos mais célebres políticos corruptos como Jânio Quadros, Ademar de Barros, Paulo Maluf e outros. Leia mais “O menino de Pedregulho (SP)”.

Um comentário:

  1. TRANSCREVENDO
    Talvez este não seja o momento mais apropriado ou politicamente correto para lembrar alguns dos seus feitos. Lembro, contudo, que durante o exercício do seu mandato de Governador – também foi Prefeito de Campinas, Deputado Estadual e Senador –, enviou a tropa de choque da Policia Militar para dialogar com uma turbamulta de professores em greve que pretendiam chegar ao Palácio de Governo. Estes mestres-escola não queriam entender que o Governador tem mais coisas a fazer do que conversar com recalcitrantes educadores. O resultado foi o esperado: vários manifestantes contundidos sem maior gravidade, que a ordem era a de não ferir a imagem do governo democrático.

    Outra lembrança vem da televisão. Tratava da qualidade da merenda escolar fornecida gratuitamente (como se os cidadãos não pagassem impostos) nas escolas estaduais. Nela apareciam crianças sorridentes consumindo sofregamente pratos de arroz, feijão, salada e carne tendo à sua frente potes de sobremesa em refeitórios amplos, iluminados e resplandecentes. Testemunhas silenciadas pelo mesquinho interesse de não perder o emprego, confidenciavam a boca pequena que na verdade a refeição consistia em latas de pó solidificado que devia ser dissolvido em grandes panelas e servido como caldo de gosto duvidoso.

    Também relembro de certa campanha de vacinação sem vacinas nos postos de saúde, mas que ia de vento em popa na propaganda oficial.

    Minha última lembrança trata da magna tarefa que teve o governador para mandar cobrir de terra uma estrada do interior do Estado que ele havia autorizado asfaltar sem perceber que a dita estrada levava a uma fazenda do seu genitor. Trapalhada compreensível em autoridade e obra de tal magnitude.

    O sucesso como empresário em diversos ramos é um departamento demasiado complexo para ser tratado neste necrológio

    Imagino que assim que sejam retomados os árduos trabalhos nas câmaras municipais, estaduais e federais, deverão ser tramitados numerosos projetos visando rebatizar ruas, avenidas, logradouros públicos e – por que não? – escolas, com o nome do ilustre político, novo morador, por assim dizer, do Panteão dos Próceres. Bem merecidos benefícios da Democracia Compulsória.

    Como dissemos, talvez não seja este o momento mais apropriado para lembrar tais deslizes comuns na vida pública; assim, fazendo vista grossa, juntamos nossas condolências às da Nação enlutada pelo desaparecimento do Grande Homem Público.

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